Abscesso anal: O que é e o que fazer

Introdução

O abscesso anal (ou anorretal) é uma das situações que configuram URGÊNCIA na Proctologia. É considerada uma afecção comum porém ainda subestimada pelos pacientes e subdiagnosticada quando examinada por médicos não especialistas. São mais frequentes no sexo masculino e raramente na infância. A seguir vamos discutir alguns aspectos desta doença.

Causa mais comum do abscesso anal

A teoria mais aceita é que os abscessos, e também as fístulas anais, têm ponto de partida numa infecção das glândulas do canal anal, que se abrem nas criptas da linha pectínea. Acredita-se que a combinação da contaminação bacteriana do conteúdo fecal, associada à estase provocada pelas fezes e a possíveis microtraumatismos que surjam nessa zona, levem à formação de uma inflamação da cripta com geração de pus (criptite piogênica), sendo esta a infecção inicial que posteriormente se estende ao longo do trajeto anatômico das glândulas anais, culminando na formação de abscessos.

 

Classificação

De acordo com sua localização anatômica o abscesso é classificado. A figura abaixo ilustra bem esta classificação e ela orienta o tipo de tratamento a ser realizado. O tipo mais frequente é o perianal. OBS: O abscesso pelvirretal é também conhecido como supraelevador.

ABSCESSO ANAL CLASSIFICAÇÃO

 

Doenças associadas

Estas doenças podem se associar ao surgimento de abscessos anorretais:

– Doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e retocolite ulcerativa)

– Câncer de ânus e reto

– Trauma

– Alterações anais pós-radioterapia

– Linfoma de Hodgkin

– Doenças infecciosas: Tuberculose, Clamydia, Actinomyces, herpes, linfogranuloma venéreo.

– Imunossupressão (ex: pela quimioterapia)

 

Quadro clínico

Os sintomas dos abscessos podem se confundir com os de outras doenças do ânus. O abscesso anal (perianal) costuma apresentar-se da seguinte maneira:

– Dor anal ou retal persistente (podendo ser progressiva com o passar do tempo e sem uma relação clara com o ato de evacuação)

– Febre e mal-estar

Os abscessos ísquio-retais, por atravessarem o esfíncter anal externo, estão mais afastados do ânus e costumam cursar com mais edema (inchaço) e perda do apetite (anorexia).

Abscessos mais profundos podem não revelar sinais na pele devendo-se suspeitar da existência deles pela presença de dor retal exacerbada e hipersensibilidade. Podem se associar ao quadro clínico sintomas urinários como disúria (dor pra urinar), retenção e incontinência.

Diagnóstico

Felizmente o diagnóstico dos abscessos anorretais, de uma forma geral, se faz através de um exame físico cuidadoso. Os sinais mais comuns são estes:

– Nódulo endurado ou abaulamento ao redor do ânus (este sinal pode ser constatado pelo próprio paciente em um auto-exame)

– Hipertermia (calor) local

– Eritema (vermelhidão) local e edema com ou sem flutuação (quando se consegue sentir o amolecimento do nódulo)

ABSCESSO PERIANAL

– Saída de secreção purulenta (quando ocorre drenagem espontânea). Pode ser pela pele ou através do ânus

– Nas mulheres é possível observar massa vaginal ao toque nos casos de abscessos supraelevadores

Apesar do exame físico definir com clareza o diagnóstico, algumas vezes devemos lançar mão do uso de exames de imagem para a confirmação da doença e definição da melhor conduta terapêutica. Os exames mais eficientes nestes casos são:

– Ressonância magnética

RESSONÂNCIA

 

– Ultrassom endoanal

ULTRASSOM

 

Tratamento do abscesso anal

Este é um exemplo de doença proctológica que configura necessidade de tratamento cirúrgico de URGÊNCIA. O abscesso perianal, que surge na sequência da obstrução do canal de drenagem de uma glândula anal, tem como tratamento padrão a INCISÃO E DRENAGEM, sob anestesia geral ou locorregional. A ausência de evidência clínica de flutuação não implica alteração da atitude, devendo-se manter o procedimento de INCISÃO E DRENAGEM.

Este procedimento deve ser feito em Centro Cirúrgico porém em casos de abscessos pequenos, superficiais e únicos admite-se a realização da drenagem em ambiente de consultório ou sala de Emergência. Pessoalmente, prefiro a realização deste procedimento em sala cirúrgica. Importante fazer uma incisão em cruz (para evitar fechamento precoce) e realizar uma drenagem o mais perto possível da margem anal para, caso o abscesso cronifique e vire uma fístula, esta teria um trajeto bem mais curto e de tratamento definitivo mais simples.

Em caso de abscessos associados a fístulas mais superficiais pode-se fazer o tratamento definitivo através da fistulotomia. Eu considero este procedimento o mais adequado pois já se faz o tratamento curativo em um único tempo. Entretanto, é importante frisar que isso só é possível caso se visualize o orifício interno da fístula e se consiga cateterizar o trajeto dela. Caso contrário, a fistulotomia teria chances aumentadas de provocar algum grau de incontinência anal no paciente.

abcessos-fistulas

Costuma-se usar antibióticos mas, de uma maneira geral, não são necessários. Contudo, existem situações em que eles estão indicados. São estas:

– Infecção generalizada (sepse)

– Celulite extensa

– Diabetes mellitus

– Doença das válvulas cardíacas

– Imunossupressão

 

Espero que este pequeno texto tenha esclarecido algumas dúvidas suas sobre o assunto. A importância de reconhecer e tratar adequadamente este tipo de problema pode fazer a diferença na vida de uma pessoa. Recomendo também aqui a visualização de um VÍDEO meu na minha fanpage do Facebook. Se você gostou do conteúdo peço que compartilhe-o nas redes sociais pois estas informações podem ser de grande valia para seus amigos.

                                                     MUITO OBRIGADO!

13 Comments

  1. Marcelo

    Parabéns já vou marcar minha consulta com o SR NA SEGUNDA , pois Tenho fístula anal ,após fazer uma CIRURGIA de uma fissura anal ,agora apareceu isso , particularmente gostei muito dos comentários na internet e da sua explicação no SITE fiquei.mais seguro! meu nome e MARCELO DOS SANTOS estarei em BANGU pq moro em REALENGO desde já obrigado até a próxima semana.

  2. Luciano

    Estou eu aqui tambem cheio de duvidas.
    Após cirurgia para retirada de um pólipo anal que não incomodava agora me deparo com essa bolsa externa extremamente dolorida….
    E la se vão 10 dias assim….
    Esperar passar as férias do medico para reavaliar.
    Algo que eu posso fazer para aliviar meu sofrimento na hora evacuar ?
    Obrigado.

    • Dr. Gustavo Melo

      Luciano, uma coisa que pode ajudar bastante são os banhos de assento com água morna 2 a 3 vezes por dia. Infelizmente não posso receitar medicamentos sem te examinar

  3. Joao

    Muito interessante o artigo Dr. Cheguei nele depois de procurar por furunculos, depois cistos até chegar exatamente no que eu tinha, o abscesso. Com muita dificuldade eu consegui estourar e o inchado diminuiu umas 10x, médico em época de festa é difícil… Vou ver se passo assim que o ano virar.

  4. Simone Suelen

    Boa noite
    Tive um abscesso recentemente, e me médicaram com antibióticos e ele drenou espontaneamente , mas o ideal não era cirurgia ? Fui atendida pelo SUS , não drenou tudo ainda, estou fazendo banho pra terminar de drenar , mas a dor não sinto mais , esse procedimento está correto ? Eu tive na região anal e chegava próximo a vagina , no começo tinha dificuldade de urinar … Desde já agradeço

  5. Jeferson targino

    Boa noite através desse texto descobri que estou com um abscesso esse tipo de cirurgia e grave demorada a recuperação rapidamente

  6. Alcir alves

    Boa noite já tive dois abseso nos dois casos tive que passar por um clínico cirurgião para drenagem tem algum remédio para que issó não volte mais …. Não aguento sofro quando tenho isso Obrigado

    • Dr. Gustavo Melo

      Caro Alcir, infelizmente não há remédio para prevenção de abscessos. Pra vc ter tido 2 vezes creio que vc deva ter uma fístula anal associada que necessitaria de ser operada. Recomendo que visite um proctologista o quanto antes. Abraço.

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